“Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura.” (Lc 2, 12)
Naquela noite, quando a luz já se tinha dissipado, os pastores guardavam seus rebanhos. Estavam em um momento em que a única companhia eram os perigos da noite. De repente, vindo de cima, um ruído de instrumentos musicais pode-se ouvir! Era um anjo acompanhado de um exército celestial, que veio anunciar aos homens uma boa notícia: “a ponte que foi rompida entre os homens pelo pecado, foi devolvida pela encarnação de Jesus”. Era o céu fazendo ponte com a terra, o mundo celestial com o mundo dos homens. Deus havia descido, veio habitar no meio dos homens.
Na gruta, estava simplesmente um menino indefeso, envolto em faixas, mas que, dentro de si, tinha o poder de juntar ao seu redor ricos e pobres, pastores e reis. Jesus menino recebeu os presentes dos magos com a mesma alegria com que tinha recebido as ovelhas e as coalhadas dos pastores. Em outras palavras, ser ponte de misericórdia é saber dar o mesmo valor quando se tem muito, e quando se tem pouco. É reconhecer a pobreza material e espiritual no coração dos homens.
Aqui, na evangelização da Europa, temos visto a força de nosso carisma no meio de pobres material e espiritualmente. A riqueza e a pobreza não são definidas por aquilo que se possui ou por aquilo que não se tem. Não existe maior pobreza do que ser egoísta e escrever de si mesmo e de suas coisas. Ao invés, a maior riqueza é saber dar-se totalmente, porque, quando nos damos aos outros, somos como fontes de água viva, nunca para de sair vida de nós.
Como Aliança de Misericórdia, somos chamados a despertar os corações adormecidos neste tempo de trevas que estamos vivendo. Ser ponte de misericórdia entre as realidades da riqueza e da pobreza é, simplesmente, fazer acontecer o natal na vida das pessoas.
Sempre, para Deus, a maior riqueza está no interior e não no que está fora. Quando Samuel vai, por ordem do Senhor, ungir o filho de Isaí de Belém, ele pensa que é o irmão mais velho, depois o segundo, o terceiro até chegar ao sétimo, e Deus fala a Samuel que ele está olhando a face, o exterior, “mas Eu olho o coração”. Nossa missão de ser ponte entre estas realidades é despertar nos homens o olhar de ver o interior.
Um pobre pode ser mais rico que outro que possui riquezas materiais. Um rico, mesmo sendo milionário, pode ser o mais miserável de todos os homens. No céu, as pessoas não são reconhecidas por seus títulos, mas por serem, simplesmente, filhos no Filho.
Rafael Ferreira
Fraternidade João Paulo II (Lisboa, Portugal)